Quando o problema “respiratório” vem do coração: Entendendo a conexão entre pulmão e coração
Muitas pessoas procuram o médico acreditando estar com um problema no pulmão — falta de ar, cansaço, tosse ou até chiado no peito — e acabam descobrindo que a origem dos sintomas, na verdade, está no coração. Isso acontece com mais frequência do que se imagina. O coração e os pulmões funcionam de forma tão integrada que, quando um deles não vai bem, o outro inevitavelmente sente os efeitos.
O trabalho em equipe entre coração e pulmões
O pulmão é responsável por captar o oxigênio do ar e eliminar o gás carbônico produzido pelo corpo. Já o coração bombeia o sangue para que esse oxigênio chegue a todos os órgãos. O sangue “descarregado” em oxigênio chega ao lado direito do coração e é enviado aos pulmões para ser oxigenado. Depois, retorna ao lado esquerdo do coração, que o impulsiona novamente para o corpo.
Essa parceria é contínua, batimento após batimento, respiração após respiração. Por isso, se o coração começa a falhar e não consegue bombear o sangue adequadamente, o pulmão é um dos primeiros órgãos a sentir o impacto.
Quando o coração sobrecarrega o pulmão
Nas doenças do coração — especialmente na insuficiência cardíaca — o sangue pode começar a se acumular “para trás”, ou seja, nos vasos que levam o sangue aos pulmões. Esse aumento da pressão dentro desses vasos faz com que parte do líquido do sangue extravase para dentro dos alvéolos pulmonares (as pequenas bolsas de ar onde ocorre a troca gasosa).
O resultado é uma sensação típica de “fôlego curto” ou falta de ar, que muitas vezes piora ao deitar e melhora ao sentar-se. Algumas pessoas acordam à noite com sensação de sufocamento, o que é um sinal clássico de congestão pulmonar causada pelo coração.
Com o acúmulo de líquido nos pulmões, pode surgir também tosse seca e persistente, que se confunde facilmente com sintomas de bronquite ou asma. Em casos mais graves, o líquido é tanto que chega a sair com um pouco de sangue — uma situação chamada edema agudo de pulmão, que requer atendimento médico imediato.
Cansaço e limitação física: sinais de alerta
Outro sintoma comum é o cansaço aos esforços. O coração enfraquecido não consegue levar sangue suficiente aos músculos e órgãos, e o corpo tenta compensar acelerando a respiração. Assim, atividades simples como subir escadas, andar em ritmo rápido ou até conversar podem causar falta de ar e fadiga.
Com o tempo, o acúmulo de líquido pode ocorrer não apenas nos pulmões, mas também nas pernas e no abdome, provocando inchaço. Esse conjunto de sinais — falta de ar, cansaço e inchaço — forma o quadro clássico da insuficiência cardíaca.
O engano mais comum: achar que é um problema no pulmão
Muitas vezes, o primeiro diagnóstico suspeitado é uma doença pulmonar, como asma, bronquite ou pneumonia. Mas se os exames de pulmão vêm normais e os sintomas persistem, é essencial investigar o coração.
Uma das formas de diferenciar as causas é observar em que situações a falta de ar aparece:
- Quando piora ao deitar e melhora ao sentar, tende a ser de origem cardíaca.
- Quando está associada a chiado no peito e melhora com inaladores ou broncodilatadores, é mais provável que seja pulmonar.
Além disso, o inchaço nas pernas, o aumento do peso por retenção de líquido e o cansaço progressivo reforçam a suspeita de origem cardíaca.
O coração e o pulmão precisam ser vistos juntos
Entender essa relação é fundamental porque o tratamento é completamente diferente. Medicamentos que aliviam o chiado ou a tosse não resolvem o problema se o verdadeiro motivo for o acúmulo de líquido causado pelo coração.
Por outro lado, quando o coração é tratado — com remédios que ajudam a eliminar o excesso de líquido e a fortalecer o bombeamento — a respiração melhora e os sintomas pulmonares desaparecem.
Por isso, diante de sintomas respiratórios persistentes, especialmente em pessoas com pressão alta, diabetes, infarto prévio ou idade avançada, é importante lembrar que nem toda falta de ar vem dos pulmões — às vezes, o coração é quem está pedindo ajuda.
Por: Dr Rodrigo Athanazio
Responsável Técnico:
Dr. Rodrigo Abensur Athanazio
CRM 122658 | RQE 42009 e 42010











