Quando o Pulmão Cicatriza Demais: Entendendo a Fibrose Pulmonar Progressiva

CDRA • 7 de julho de 2025

A fibrose pulmonar progressiva (FPP) é uma condição em que o pulmão desenvolve cicatrizes que vão se agravando com o tempo. Essa “rigidez” pulmonar dificulta a respiração e pode impactar muito a qualidade de vida. Mas o que poucos sabem é que FPP não é uma doença única — é um comportamento que pode acontecer em diferentes doenças pulmonares que causam fibrose.


Neste texto, vamos conversar de forma simples e direta sobre o que é a FPP, como ela é diagnosticada, quais os sinais de alerta e quais são as opções de tratamento hoje.


O que é Fibrose Pulmonar Progressiva?


A fibrose pulmonar acontece quando o tecido dos pulmões, que normalmente é elástico e delicado, começa a se transformar em uma espécie de cicatriz. Isso dificulta a troca de oxigênio e a expansão dos pulmões.


Quando essa fibrose continua avançando mesmo após tratar a causa de base, chamamos de fibrose pulmonar progressiva (FPP). Isso pode ocorrer em diversas doenças pulmonares, como:


  • Pneumonia de hipersensibilidade crônica, causada por exposição prolongada a mofo ou proteínas de pássaros;
  • Doenças autoimunes, como artrite reumatoide ou esclerose sistêmica;
  • Fibrose pulmonar idiopática (FPI), em que a causa é desconhecida;
  • Pneumonias intersticiais não classificadas, quando não se consegue encaixar em um diagnóstico específico.


Como saber se a fibrose está progredindo?


Os sinais de que a fibrose está piorando podem ser sutis no início, mas é importante ficar atento a:


  • Piora da falta de ar e da tosse ao longo dos meses;
  • Cansaço ao realizar esforços simples;
  • Queda nos exames de função pulmonar, como a espirometria;
  • Tomografias com áreas mais extensas ou densas de fibrose.


Em muitos casos, mesmo com uso de medicações para a doença de base (como imunossupressores para doenças autoimunes), a fibrose continua evoluindo. Nesses casos, estamos diante da FPP.


Como é feito o diagnóstico?


O diagnóstico da FPP é feito com base em uma avaliação cuidadosa, que inclui:


  • História clínica detalhada, com perguntas sobre sintomas, histórico familiar, exposição a mofo, aves ou poeiras;
  • Tomografia de tórax de alta resolução, que mostra o padrão e a extensão da fibrose;
  • Exames de função pulmonar, para medir a capacidade dos pulmões;
  • Exames de sangue, para investigar causas autoimunes;
  • Biópsia pulmonar (em alguns casos), para entender melhor o tipo de inflamação ou cicatrização.


Em muitos casos, uma equipe multidisciplinar (pneumologista, reumatologista, radiologista) discute os achados juntos para chegar a um diagnóstico mais preciso.


Qual é o tratamento da FPP?


O tratamento tem dois objetivos principais:


1. Tratar a causa da fibrose (quando conhecida)

  • Na pneumonia de hipersensibilidade, é fundamental eliminar a exposição ao agente causador (mofo, aves).
  • Nas doenças autoimunes, é preciso controlar a atividade da doença com imunossupressores.


2. Frear a progressão da fibrose


Se, mesmo com o tratamento da causa, a fibrose continuar avançando, pode ser indicado o uso de medicamentos antifibróticos, como:

  • Nintedanibe: aprovado para várias formas de FPP, inclusive quando não se trata de FPI. É o antifibrótico com mais evidência científica fora da FPI.
  • Pirfenidona: também usado, mas com estudos mais robustos apenas na FPI.


A decisão de iniciar um antifibrótico é individualizada, considerando fatores como ritmo de progressão, efeitos colaterais e outras doenças que o paciente tenha.


Em casos mais complexos, o uso combinado de imunossupressores e antifibróticos pode ser considerado, especialmente em doenças autoimunes com fibrose persistente.


E quanto aos gatilhos ambientais?


Eles não podem ser ignorados. Em muitos pacientes, o contato contínuo com mofo, ambientes úmidos, saunas mal ventiladas ou poeiras orgânicas pode estar por trás da doença — ou ser um fator de piora.


Eliminar esses gatilhos pode ter um impacto direto na estabilização da doença, e às vezes, essa simples medida evita a necessidade de medicação adicional.


O que levar desta leitura?


  • FPP não é uma doença, mas um padrão de comportamento da fibrose.
  • Sinais como cansaço, falta de ar progressiva e queda na função pulmonar merecem atenção.
  • Tomografias e espirometria ajudam a monitorar a evolução da fibrose.
  • Eliminar gatilhos ambientais pode ser tão importante quanto o uso de remédios.
  • Existe tratamento para frear a progressão da fibrose. Converse com seu pneumologista.


Conclusão


A fibrose pulmonar progressiva é um desafio, mas hoje temos ferramentas para diagnosticá-la mais cedo e tratá-la de forma mais eficaz. O segredo está em conhecer os sinais, buscar ajuda médica especializada e seguir o plano de tratamento, que muitas vezes envolve mais de um profissional de saúde.


Se você (ou alguém próximo) foi diagnosticado com fibrose pulmonar ou Doença Pulmonar Intersticial, não hesite em conversar com seu médico sobre a possibilidade de progressão e sobre os tratamentos disponíveis.


Responsável Técnico:

Dr. Alexandre de Melo Kawassaki

CRM 117803 | RQE 49066

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