Câncer de pulmão e poluição: entenda a relação
A relação entre câncer de pulmão e o tabagismo é bem conhecida e estudada, mas a relação com poluição é muito mais nebulosa.
Saiba o porquê lendo este artigo feito especialmente para tirar essa dúvida:

Você entende o que é a poluição?
A definição parece simples, mas traz outras perguntas, que tentaremos responder agora.
A poluição é o conjunto de poluentes que estão em suspensão no ar. Esses poluentes, formados uma milhares de substâncias diferentes, são conhecidos cientificamente como material particulado (MP), e é através da medição do MP que conseguimos definir a qualidade do ar nos relógios espalhados pela cidade de São Paulo.

O MP é formado por minúsculas substâncias, uma poeira invisível a olho nu.
A melhor forma de imaginar o tamanho da poeira microscópica é fazendo uma comparação com objetos que temos familiaridade. Imagine um violão, seu tamanho é em torno de 1 metro.
Ao dividir 1 metro em 1000 partes, temos 1 milímetro. Ao dividir 1 milímetro por 1000, temos 1 micrômetro (μm). O MP passa a ser considerado quando as partículas têm diâmetro de 10 μm a menos.

Diversas substâncias diferentes podem compor o material particulado, dividido de acordo com o diâmetro de uma partícula.
De uma forma geral, quando aferimos a poluição do ar, não definimos as substâncias que a compõem, mas a quantidade de material particulado existente naquele ar.

É muito importante a classificação do material particulado em diferentes tamanhos (MP10, MP2,5, MP1 e MP0,1), pois assim conseguimos definir os locais do corpo onde eles se depositam e causam problemas.
Quanto menor o tamanho do MP, menor o número ao lado da sigla e maior capacidade ele tem de invadir nosso organismo.

Voltando agora ao desenvolvimento de câncer, não apenas o MP é responsável pela indução desta doença, mas há também outros fatores, como exposições domiciliares, exposições ocupacionais, hábitos e fatores genéticos, por isso é tão difícil estudar a chance de desenvolvimento de câncer relacionado à poluição.
O que podemos fazer é avaliar os locais com alto índice de poluição e investigar a incidência de câncer de pulmão nesses locais. Tais estudos conseguem estimar que aumentos na concentração de determinadas substâncias presentes na poluição aumentam o risco de câncer de pulmão, por exemplo: a cada aumento de 5 μm/m3 de MP2,5 no ar, o risco aumenta em 63%, e a cada aumento de 10 μm/m3 de MP10 no ar, o risco aumenta em 53%.
Em São Paulo, a poluição varia muito de acordo com o bairro, mas de uma forma geral vive-se com níveis de MP acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde:

Como podemos nos proteger?
O primeiro passo é reduzir exposições modificáveis, como o tabagismo ou exposição a fumaças em geral
(por exemplo, queima de lenha ou carvão vegetal). Uma questão importante é se devemos ou não mudar de cidade.
Sabemos o quão difícil é largar sua vida, emprego, amigos e família na cidade onde moramos, mas se você tiver uma história familiar importante de câncer de pulmão (indicando que geneticamente você é predisposto à doença) e tiver condições financeiras, sociais e emocionais de se mudar, talvez seja uma boa opção.
As máscaras podem ser úteis?
Talvez sim, especificamente as máscaras N95, que conseguem filtrar 95% do MP ultrafino, ou seja até 0,1 μm de diâmetro. Não há estudos que mostrem qualquer eficácia, mas teoricamente há um racional para seu uso visando reduzir a chance de câncer de pulmão em pessoas que moram em cidades muito poluídas.
O problema é que deveriam usar essas máscaras a maioria das 24h de um dia. Por isso a melhor forma de resolver esse problema é através da redução da emissão de poluentes e priorização de geração de energia limpa, ou seja, implementação de políticas públicas que atuem contundentemente no problema.
Se você tem mais dúvidas sobre o tema, risco de desenvolvimento de câncer e formas de proteção, sugiro procurar auxílio médico,
estaremos à disposição para tirar suas dúvidas e fazer o rastreio de câncer em quem precisa.
Entre em contato para mais informações!
Responsável Técnico:
Alexandre de Melo Kawassaki
Doutor em Pneumologia pela USP
CRM-SP: 117.803